O povo brasileiro é muito
interessante. Quase trinta anos depois de uma ditadura que levou a empréstimos
bilionários que levaram à dívida externa que até hoje pagamos; que ainda
contabilizamos os desaparecidos, mortos nos porões de delegacias e presídios,
ou jogados no mar; pedes-se ainda a volta da ditadura.
Que apareça uma ditadura militar
que sirva de exemplo para o mundo, que nos leve a almejar isso de novo! Onde
está esse bom exemplo? Na Argentina de Pinochet? Nos países árabes? No Brasil?
Qual foi o legado que tais ditaduras deixaram além de vítimas silenciadas à
base de fuzil, espancamentos, torturas ou enforcamentos nas selas, como se essas
fossem as únicas respostas às ideias contrárias?
As forças armadas prestam um
grande serviço a qualquer país democrático. É inegável o valor de podermos
dormir com consciência calma, por sabermos que existe um grupo de servidores públicos
que darão suas vidas, se assim for necessário, para defender a soberania de
nosso solo, de nosso povo. Mas acreditarmos que tal força sendo utilizada
contra seus próprios cidadãos, assim como foi usada décadas atrás, produzirá um
país melhor é tolice política ou ideológica.
A democracia, seja aqui ou em
qualquer outro país desenvolvido no mundo, é como uma jangada: não afunda, mas
os pés vão sempre molhados. A democracia é um remendo necessário à criação de
um mundo em que a igualdade de direito seja algo além da utopia.
São todos políticos corruptos? São
todos militares exemplares? São todos os cidadãos conscientes e inteligentes o
suficiente para fazerem boas escolhas? Onde está o problema, ou melhor, a
solução? Os políticos que governam este país, bem como os militares que
governaram este país por duas décadas, não foram importados de Marte, nem de
qualquer outro lugar. Emergiram do povo, com suas virtudes, com sua ignorância,
com seus vícios. Num país em que tudo tem um “jeitinho brasileiro” (lembra
aquela conversa com o guarda rodoviário, a marcação de demanda numa instituição
pública, aquele troco errado que não foi devolvido?) executará que tipo de
governança? Num país de obras superfaturadas, serviços não prestados, votos comprados,
parafusos que são comprados por preço menor 5 vezes menor fora da caserna, são
refletidos o egocentrismo, a lei de Gerson, (levar vantagem em tudo), daquela
conversa à meia voz com quem pode acobertar o que é contrário às leis
estabelecidas. Situações promovidas e propagadas por boa parte de seu povo.
Povo este que se queixa quando seus governantes praticam os mesmos atos.
Precisamos de melhor educação,
sim. Precisamos tomar vergonha na cara e lembrar-se do político que votamos na
semana seguinte às eleições. Precisamos incentivar a devolver o troco errado, a
não sonegar imposto de renda, a não gritar “sabe com quem está falando?”,
independentemente da função pública. Há a necessidade de cada um de nós não
jogarmos o papel de bala na rua, e acharmos que estamos “dando emprego para
garis”... Precisamos educar melhor
nossos filhos para que saibam, nas gerações futuras, exigir das autoridades o
que tem direito, e não ser manipuladas por elas.
Precisamos nos unir, com
consciência e inteligência, a fim de modelar uma nação em que ditadura não
traga saudades.
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