
"A política... há muito tempo deixou de ser ciência do bom governo e, em vez disso, tornou-se arte da conquista e da conservação do poder.”
(Luciano Bianciardi)
Passira, embora tenha raízes fincadas na história que remonta os fins do século XIX, tem um histórico de independência política recente, uma vez que conseguiu sua emancipação política apenas em 20 de dezembro de 1963.
Porém, mais antigo que a emancipação de Passira era o meu pai, Vicente Francisco da Silva, cujo falecimento em 23 de maio de 2000, deixou um grande vazio no peito de seus entes queridos e amigos mais próximos. E meu pai, nascido em 1910, era um homem simples que apreciava uma boa leitura, não dispensando a leitura de jornais, da revista O Cruzeiro e depois a Veja; sendo capaz sempre de fazer uma análise dos fatos, especialmente os políticos com uma profundeza e tenacidade que me inspira até hoje.
Contava-me, ao trabalharmos juntos diariamente em sua oficina, como as forças políticas que por muito tempo se perpetraram por estas bandas. Uma das forças políticas mais influentes, por não dizer outras palavras que indiquem a pujança de seus feitos, foi o senhor Francisco Heráclio do Rêgo, o coronel Chico Heráclio, nascido em 3 de outubro de 1885 e falecido 17 de dezembro de 1974, o qual foi um proprietário rural brasileiro de destacada influência política na cidade de Limoeiro. O Leão das Varjadas, como também era conhecido, foi um dos ícones do coronelismo brasileiro. Figura do coronelismo no Brasil, o qual comprou a patente de tenente, ficou conhecido nacionalmente quando o humorista Chico Anysio fez um personagem em sua homenagem, o "Coronel Limoeiro".
Entre tantos feitos bons que perpetuam a sua imagem até hoje em nossa região, sobram-lhe outros, os quais muito conhecidos pela História, pouco comentado pelo povo, mas até mesmo lembrados por ele mesmo, como por exemplo, a forma de fazer política.
Para garantir a eleição dos seus candidatos “o processo é muito simples”, disse o próprio coronel à Revista Manchete, resumindo as estratégias de coação, fraude e favor:
“Eu e mais alguns amigos damos transporte aos eleitores. Mando um boi para cada seção eleitoral e às vezes mando cachaça para depois das eleições. Não admito fiscal de nenhum partido. Eleição em Limoeiro tem que ser feita por mim. Sempre fiz e nunca me dei mal”.
Outra arma política de Chico Heráclio era propaganda e difamação em formato impresso: os famosos panfletos do Coronel. Quase sempre o conteúdo desses panfletos eram ofensas a rivais – com muito palavrão – ou exaltação de si e dos seus candidatos.
No entanto, esse tempo passou, poucas pessoas lembram esses momentos saudosamente, muitos outros ficam felizes de terem passados e esses fatos ficam apenas registrados na História e na memória daqueles que se preocupam com o desenvolvimento político, social e comercial de nosso município.
Porém a História é um pouco caduca, esclerosada, e por que não dizer imoral, na mente daqueles que detêm o poder, e teima em se repetir. Mas, quando esta se repete, apenas se refaz de um modo mais aperfeiçoado, mais sutil, mais inteligente, mas não menos imoral, corrupta, descarada, constrangedora, safada.
Mas como já dizia Henri Millon de Montherlant: "A política é a arte de captar em proveito próprio a paixão dos outros." E dessa maneira aqueles que se propõem a serem os salvadores da pátria, das mazelas de seus antecessores, salvam apenas a si próprios, a seus parentes e aqueles que lhe são leais, ou melhor, subservientes, para não usar as palavras mais conhecidas no Nordeste, quando se tratam daqueles que para adquirirem um pouco de prestígio venderiam a alma, se assim a tivessem...
E como disse Ambrose Bierce, "A política é a condução dos assuntos públicos para o proveito dos particulares." Daí, entra a vocação de nosso município, o qual passou de um dos maiores produtores de milho do estado de Pernambuco para investir maciçamente na citricultura.
Fiquei muito feliz ao ver que o Sr. Adaias, conhecido como Daia da Piscina, plantou no vale do Rio Caçatuba algumas centenas de laranjeiras próximas ao seu empreendimento. No entanto, os fatos mostram que seu Daia tem um laranjal insignificante diante da nova safra de laranjas que tem surgido em nosso município. São laranjas que rendem muito a seus donos, são laranjas que estão por trás de faraônicos empreendimentos, que acabam por limparem a imagem de nossos grandes cultivadores de laranjas.
As laranjas em nosso município conseguem erguer monumentos, construir ruas inteiras, se assim o quiser, divertir (leia-se: distrair) as massas, carros de luxo, enriquecimentos vertiginosos que fariam o Ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci Filho, morrer de inveja. O empreendimento de Palocci multiplicou por 20 seu patrimônio em quatro anos, gerando um escândalo que está abalando o governo da Presidenta Dilma Rousseff. Mas por mais que sejam constrangedores esses fatos de relevância nacional, por mais que isso seja imoral, o Palocci aprenderia muito com os laranjais de Passira...
Estou ainda mais convencido de que se o Marcos Valério, empresário brasileiro da área publicitária, tornado nacionalmente conhecido em 2005 por seu envolvimento no chamado "escândalo do mensalão", aprenderia muito sobre o uso de notas fiscais na compra de defensivos agrícolas, fertilizantes, usados nos laranjais de Passira. Ainda mais ele aprenderia se fizesse uso de promissórias em suas empresas. Os laranjais de daqui são ótimos nisso... E os cheques? Nem falemos disso, sem serem cruzados e nominais, basta encher a sacola...
E as cotações para comprar mais sementes de laranjas que servirão para aumentar o patrimônio dos “laranjeiros”? Esse processo faz com que não haja perda de patrimônio privado, que sempre vai crescendo...
Mas como sabemos fazer compras em nosso município custa caro. Então se pode trazer de cidades distantes, de canetas a papel higiênico para abastecer os escritórios das empresas citricultoras. Por que não, gente?
E a tecnologia da informática? Pode-se usá-la também na citricultura. Ela pode ser usada desde fazer cálculos mirabolantes, embora às vezes dois mais dois sejam cinco, seis, ou até mais, numa matemática que só os realmente técnicos conhecem, pode também para criar documentos importantíssimos que servirão aos citricultores. Desde bilhetes a notas...
E como tudo isso se perpetra?
É simples como disse Konrad Adenauer: "Em política, o importante não é ter razão, mas que a dêem a alguém." Que o leitor use de discernimento...
Realmente, Passira não se comporta mais como um produtor de milho. Já há muito abriu espaço para a citricultura, para a construção civil de investimentos mais altos. Para o povo, restou-lhe o sabugo do milho cuja simetria não agrada muito. Restam-lhe também as cascas ou bagaços das laranjas. Resta-lhe também a falta de serviços mínimos de boa qualidade. Sobram-lhe professores mal remunerados que não sabem fazer cálculos, que sabem apenas como boi entra na fábrica de frios, e sai do outro lado em forma de indigestas linguiças, mas não se faz idéia como o boi é processado na fábrica. Sabe-se apenas que o peso final tem uma diferença brutal.
Mas como não entendo de citricultura, volto-me a falar do que entendo um pouco, o magistério, os professores, os quais têm sido penalizados, responsabilizados pela desgraça da educação neste país embora todos nós saibamos qual a fonte dos problemas, inclusive a colega do Rio Grande do Norte, Amanda Gurgel, a qual falou muito bem diante dos deputados recentemente, atraindo a atenção da mídia nacional.
Mas quanto a nós, resta apenas continuarmos com “raciocínios lerdos”, lentos de tanto ouvir conversa afiada a fim de crermos que está tudo bem, que queremos demais, quando queremos o que temos direito.
Como disse certa vez François Marie Arouet, mais conhecido como Voltaire, filósofo francês: "Encontrou-se, em boa política, o segredo de fazer morrer de fome aqueles que, cultivando a terra, fazem viver os outros."
Por fim, resta apenas a vergonha de ser professor lesado, subtraído, e humilhado.
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